segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Relacionamento de valor



Os aspectos político e comercial são, desde o século XVIII, os pilares históricos da relação entre empresas, imprensa e sociedade.

Diante das transformações provocadas pela indústria, a imprensa, inicialmente os jornais, consolidou sua identidade de grande formador de opinião sobre os temas avaliados pela redação como de interesse da sociedade moderna. O poder de falar rapidamente com todos sobre produtos e serviços sob o ponto de vista do veículo de comunicação foi decisivo para transformar leitores em eleitores e também em consumidores, comunicando idéias e produtos. 

A partir de uma visão virtuosa, pode-se afirmar legitimamente que a imprensa contribuiu para o sucesso ou a derrocada de personalidades, empresas e instituições. Para exemplificar a força do protagonismo da imprensa, destaco do início dos anos 1900, a ação do jornalista norte-americano Ivy Lee, que organizou e civilizou o relacionamento do magnata norte-americano John Rockfeller, seu cliente, com os principais jornais dos Estados Unidos. Rockfeller era odiado e identificado pela sociedade, trabalhadores, autoridades, comunidade e principalmente pelos sindicatos como um “robber-baron”, um barão-ladrão, uma expressão pejorativa, sinônimo de monopolista, capitalista selvagem; eram alguns dos xingamentos amplificados pela imprensa da época, que lembram as atuais palavras de ordem contra o capitalismo financeiro ecoadas por movimentos como “Ocupe Wall Street”, em Nova York, e os seus similares em outras grandes cidades. Rockfeller precisava defender e legitimar os seus negócios, antes que a sociedade acabasse com eles. E nesse ambiente, Lee entrou em campo e criou pioneiramente uma nova imagem para Rockfeller ao fazer-lhe uma série de recomendações de como se relacionar com a mídia. Lee tinha amigos nas principais redações e endereçou-lhes uma carta de princípios em que se colocava, como porta-voz de Rockfeller, sempre à disposição dos jornalistas para fornecer notícias verdadeiras. O seu “manual” recomendava visitas das fontes às redações, simulações de entrevistas, entre outras ações e marcou o início das relações públicas contemporâneas. E, também, o prosseguimento, em um patamar mais sofisticado das – nem sempre pacíficas – relações entre as fontes empresariais e os jornalistas sedentos por informações, principalmente nas situações em que as empresas apresentavam problemas de competência, legalidade ou legitimidade.

Hoje no Brasil as empresas presentes no ranking “Melhores & Maiores (As 1000 maiores empresas do Brasil)”, editado pela Editora Abril, contam com áreas e agências especializadas em relacionamento com a imprensa. O tema, nos últimos 50 anos, é o mais estudado por comunicadores e professores no campo profissional e acadêmico. Na prática, todos sabem que a excelência nessa relação é ameaça e oportunidade. Más notícias geradas por crises atraem os olhos da imprensa, que tem forte comportamento de matilha: está sempre pronta para destroçar a vítima que sangra. Nesses momentos são testados duramente pela imprensa os valores prometidos em ideários, muitas vezes até banalizados pela comunicação empresarial, como a ética, a verdade e a transparência. Mas, felizmente, o cotidiano das empresas contém também boas notícias, que exemplificam a utilidade e a transcendência do negócio, reforçam a percepção das marcas e os atributos dos líderes. E, mais do que nunca, legitimam e transformam empresas em instituições.

Fonte: Paulo Nassar

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Análise de Redes Sociais no diagnóstico das relações no contexto das organizações

A comunicação no contexto das organizações se efetiva na relação estabelecida entre os membros da organização e destes com redes externas. Nessa perspectiva, não basta conhecer o público, é preciso saber como ele se relaciona. 
Para reconhecer a comunicação a partir dos vínculos diretos e indiretos, propõe-se mapear a rede de relações resultante das trocas informacionais, feitas de forma presencial ou mediada por uma pessoa, ou por meios como o telefone, e-mail ou documentos. Ao analisar a comunicação por esta perspectiva, a Análise de Redes Sociais (ARS) possibilita identificar, dentre outras, as pessoas que retêm a informação, as mais influentes e centrais, bem como as mais periféricas e isoladas do grupo.

Assim, é possível detectar relações de cooperação e conflito, bem como avaliar as competências e o poder de cada membro da organização, a influência da hierarquia e de interesses individuais, as interações dentro dos setores e transetoriais. No âmbito das redes externas, cabe considerar, por exemplo, o atendimento, a captação de informações que possibilitem adequar a organização às demandas e as relações estabelecidas com outras organizações.

A população da rede a ser analisada pode ser delimitada a partir das relações mantidas por uma pessoa, ou dentro de um grupo com perfil específico e também mediante citações em cadeia. Os dados relacionais, obtidos com questionários que podem mesclar questões fechadas e abertas, são facilmente sistematizados por programas como o UCINET 6.0 for Windows. Utilizando o número um para identificar existência de relacionamento entre dois membros do grupo e o zero para a inexistência de relacionamento, os dados são lançados no programa em forma de matriz binária. A partir desses dados, ele fornece métricas relativas à estrutura do grupo e à posição e influência de cada ator na troca de informações, além de gerar a representação gráfica da rede. 

A análise de rede identifica os membros pelos quais passam os fluxos mais intensos, os que mais intermedeiam contatos ou aqueles cujo potencial pode ser mais bem explorado, além das conexões diretas e indiretas, o grau de reciprocidade e a interação dentro e entre os subgrupos. De forma análoga, também é possível identificar aqueles que dificultam o processo comunicacional.

A importância de um ator no acesso e disseminação da informação é revelada pelo volume e o tipo de ligações que possui, a posição que ocupa e a direção e intensidade do fluxo da informação. Um indivíduo é central em uma rede quando pode comunicar-se diretamente com muitos outros, está próximo de muitos atores ou, ainda, quando intermedeia muitos contatos.

Assim, a análise da comunicação organizacional sob o prisma das relações em rede, possibilita responder questões como: com quem cada indivíduo busca informação sobre determinado assunto; quais membros se conhecem ou quem tem acesso a quem; com que frequência trocam informações; se os colegas sabem com quem buscar cada tipo de informação; se utilizam tais fontes. 

Ao considerar a capacidade e os recursos informacionais de cada membro e sua competência em compartilhá-los, a análise das redes de relacionamento e informação oferece meios de aprimorar a comunicação, respeitando a autonomia e as diferenças individuais, bem como aspectos específicos do grupo e do contexto. Portanto, conhecer como a rede se desenvolve é identificar caminhos para otimizar o fluxo de informações e as relações do grupo, intensificando o compartilhamento e promovendo a formação de novos laços. É ter informações para trabalhar estrategicamente a comunicação no contexto da organização. 

Fonte: Ivone de Lourdes Oliveira 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O imperativo ético na comunicação corporativa

É significativa a participação das assessorias de imprensa, internas ou terceirizadas, na composição do conteúdo jornalístico da mídia brasileira, como canais de relacionamento de empresas, entidades de classe, governos e ong´s com jornais, revistas, rádios, televisões e sites jornalísticos da Web. Esse processo é aparentemente saudável, levando-se em conta que os veículos de comunicação, dentro dos limites compreensíveis no contexto do capitalismo, demonstram não ter recuado em seu grau de independência e caráter investigativo.

A condição de fonte recorrente da imprensa implica imensa responsabilidade no trato da informação, o bem mais precioso deste século. A prevalência da ética na divulgação de notícias, respostas precisas às indagações dos jornalistas e transparência no esclarecimento de dúvidas e no gerenciamento de crises constituem atitude condicionante ao sucesso da meta de aperfeiçoamento da sociedade, melhoria da qualidade da vida e avanço socioeconômico do País. Enganam-se os que entendem ser inviáveis tais práticas sob o crivo dos interesses estratégicos das organizações. Afinal, a ciência da comunicação, cada vez mais avançada, oferece todos os recursos necessários à conciliação das duas vertentes.

Não pode haver antagonismo entre a comunicação corporativa e os parâmetros éticos que permeiam a cultura contemporânea de urbanidade. Esta consciência é imprescindível para uma nação que ainda luta por sua inserção no primeiro mundo. Assim, é oportuno refletir sobre dois aspectos essenciais à discussão do tema, ambos relacionados à efetiva missão do assessor de imprensa, função que representa parcela expressiva do mercado de trabalho dos jornalistas.

A primeira reflexão refere-se ao fato de que o profissional de comunicação não deve agir como advogado! Assim, nos gerenciamentos de crise, atendimento à imprensa em casos de denúncias contra seu cliente ou em situações análogas, o assessor de imprensa deve limitar-se à transmissão de informações. O bom jornalismo recomenda que denunciados tenham o benefício da dúvida e desfrutem o direito de dar sua versão para o caso. É este o papel do assessor, informando com precisão à mídia, de preferência por escrito, as alegações de seu cliente ou abrindo espaço para que ele próprio se pronuncie. A defesa retórica, contudo, cabe ao Departamento Jurídico ou à banca advocatícia. O outro aspecto a ser considerado é não confundir o exercício do jornalismo nas assessorias de imprensa com lobby — atividade, aliás, ainda não entendida tanto quanto não regulamentada no País.

Tomados esses cuidados essenciais na ocorrência de crises ou em campanhas voltadas à defesa de um setor de atividade, causa ou empresa, o jornalista da assessoria de imprensa, quando age de modo correto, vive deliciosa e apaixonante atividade de pauteiro, viabilizando a veiculação de notícias de real interesse da sociedade e da organização para a qual trabalha. Sua atuação, somada à dos profissionais que atuam na mídia, é muito relevante, pois permite sinergia a uma civilização compulsivamente geradora de milhões de informações por segundo, e o acesso ao conhecimento propiciado pelos meios de comunicação é crucial, pois integra o ser humano no seu tempo e lhe outorga a cidadania.

Fonte: Marco Antônio Eid

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A comunicação pública: além dos políticos e dos partidos



No momento em que a União Européia passa por mais uma crise, desta vez provocada pela quebra da Grécia e pela imagem, principalmente política da Itália, os principais comunicadores públicos europeus se reuniram em Veneza, em 10 e 11 de novembro.

A reunião aconteceu no âmbito das comemorações dos 25 anos do Club of Venice, organização fundada em 1986, pelo professor italiano Stefano Rolando,  para integrar e fomentar o diálogo daqueles que pensam e fazem a comunicação pública da Europa.

Neste ano, a reunião teve como tema principal os aprendizados, os desafios e as perspectivas que a comunicação, que tem os cidadãos como razão de ser, tem pela frente, principalmente em um momento como o da crise européia.

A maioria dos palestrantes que falaram na Sala Monumental da Biblioteca Marciana, na Praça San Marco, fez questão de destacar que o cidadão tem o direito na sociedade democrática e digital à comunicação digital, o que significa nenhum tipo de barreira à mídia social, e  wi-fi abrangente.

Veneza é um exemplo de digitalização pública, como destacou na abertura da reunião o prefeito da cidade, Giorgio Orsoni. A cidade, quase imemorial, já é também uma cidade do futuro, quando olhada pelos seus recursos de comunicação digital ofertadas aos venezianos e seus milhões de visitantes.

O que se destacou, também, na reunião do Club of Venice é que a comunicação pública tradicional se cristalizou em propaganda de Estado. O que tem representado uma informação que os políticos e os partidos, usando recursos humanos e tecnológicos públicos, despejam na cabeça dos cidadãos, com o objetivo, quase explicito,  de se perpetuarem no poder. É esta comunicação de Estado manipuladora de fatos e números que está sendo responsabilizada aqui como uma das produtoras dos rombos nas contas públicas da Grécia e da Itália. Políticos, com a ajuda das máquinas de comunicação estatais e da mídia de massa controlada, maquiaram balanços até faltar dinheiro para pagar as contas do dia-a-dia.

A hora do branding público
 
Diante de uma comunicação de Estado questionada por uma realidade comunicacional em que todos, usando smartphones e redes sociais, se comunicam com todos, os comunicadores públicos que integram o Club of Venice defendem o branding público. Uma comunicação que valoriza os patrimônios simbólicos das sociedades, além dos estereótipos e da visão estritamente mercadológica, muitas vezes étnicos, econômicos,  territórios, etários e de gêneros. O chamado branding público quer comunicar e enraizar nas sociedades européias o direito dos cidadãos à informação pública transparente e temas importantes para sociedades, integradas por massas de imigrantes, velhos e jovens, como a solidariedade intergeracional, o voluntariado e uma visão cosmopolita do mundo.  É por isso que comunicadores brasileiros foram convidados, pela primeira vez, para falar no Club of Venice sobre a globalização da comunicação e a visão que os brasileiros têm da Europa.

Fonte:  Paulo Nassar

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quanto vale mudar o mundo?



Depois de passarmos pela década da informação, os dias atuais se pautam muito mais pela co-presencialidade. Parece estranho pensar que os tempos da informação se foram, mas é um pouco disso que vivenciamos cotidianamente.

Quando a curva de adesão à Internet mostrou seus traços iniciais, todos proclamaram o fim de uma era, como se tivéssemos um único ponto de transformação. Como se pudéssemos trabalhar em uma linha do tempo Antes da Internet e Depois da Internet. As mudanças já se preparavam para ganhar escala. O embrião estava lá, mesmo dentro das maiores ditaduras.

A transformação pede mais do que uma novidade, mais do que uma mudança. Pede novos paradigmas, pede um novo pensamento, que não se baseia exclusivamente no online, mesmo que tenha nele um dos seus pilares mais evidentes na manutenção de uma relação diferenciada com nossos diversos papéis sociais.

Da informação, mudamos para a participação, mesmo que fisicamente distante. Nos primeiros anos do milênio dávamos importância aos que tinham informações. Quanto mais, melhor. Hoje o valor, principalmente nas redes, está em quem sabe o que fazer com tanto conteúdo. Os articuladores, os agregadores, os curadores são mais preciosos do que os informativos.

Mesmo que isso remonte à classificação trina da pauta jornalística, por exemplo, entre o conteúdo informativo, interpretativo e opinativo, a questão em foco desce a patamares mais profundos.
A legitimidade, dentro do tabuleiro político das dinâmicas sociais, não se restringe ao espaço tangível, material e presencial.

Mesmo estando em um tempo de participação, não havemos de ser hipócritas ou cegos aos indícios de que parte dos traços da pseudo-participação se mantêm nos dias de hoje.

São tantas redes e sites de relacionamento, vídeos, campanhas, causas, bandeiras. Não somos capazes de manter um envolvimento real, profundo e dedicado com tudo.

Ou o cidadão virtual opta por causas próximas aos seus valores ou se permite ter uma participação superficial no todo, quase pueril.

Mas como agentes de mudanças, não nos resumimos aos que se dedicam ao stricto sensu ou ao lato sensu, mas podemos ser catalisadores. Podemos ser otimizadores.

Abaixo está um exemplo de um personagem, hoje global, que não levantou uma única bandeira em meio a uma passeata. Ele não estava nas ruas para fazer cair os ditadores.

http://migre.me/5HmuR

Pensar sobre as implicações do trabalho de Julien Assange, fundador do WikiLeaks, sem entrar no mérito das acusações que recebeu, é ponto primordial para esboçar os traços tecno-culturais que estão há muito se delineando.

Entre a brincadeira do vídeo e a profundidade da mensagem, mantenho a pergunta. Quanto vale mudar o mundo?

Fonte: Mauricio Felício

sábado, 5 de novembro de 2011

Significado e representatividade

Nos anos 60 um jovem negro do Alabama despontou como boxeador de raro talento. Ao mesmo tempo em que exibia movimentos ágeis e leves, impunha força e precisão em golpes quase sempre certeiros. Apresentava um estilo novo, desconcertante, quase um bailado, bonito de se ver, principalmente quando derrotava adversários mais fortes. Conquistou logo os títulos de Campeão Olímpico e Mundial. Mas, apesar da fama, das medalhas e da glória que trazia para seu país, não podia entrar em lanchonetes e pedir um simples sanduíche. Na época, não permitiam negros em muitos bares e restaurantes nos Estados Unidos.

Além das habilidades esportivas, o jovem era competente no jogo das palavras e em atitudes de provocação. Seus desafetos prediletos eram a imprensa, com quem fazia jogos de cenas, o Governo e o Exército Americano. Acredito que foi ele quem inventou as provocações entre os boxeadores na hora da pesagem.

Esperto, não tardou a perceber que representava a indignação de boa parte dos americanos contra o status quo. Era uma época de grandes mudanças, diversos grupos ativistas levantavam causas e bandeiras por todos os lados. Com os ecos da Segunda Guerra ainda reverberando nos ouvidos e o espanto com novas invenções e conquistas, como o homem chegando à Lua, a sociedade já não tolerava mais atitudes e comportamentos como a segregação e o preconceito racial.

Compreendendo que o seu jeito de ser e se apresentar ao público representava boa parte desse inconformismo, o jovem boxeador soube usar essa imagem em benefício da sua carreira e, principalmente, a favor da causa maior: o direito das minorias. Aproveitando o poder que a mídia lhe proporcionava começou a esbravejar em alto e bom som: “Eu sou o maior! Eu sou o maior!” Quanto mais desafiava a ordem pública, mais força lhe era oferecida pelos admiradores. Para provocar mais ainda mudou seu nome de Cassius Clay para Muhammad Ali.

Recusou-se a servir no Vietnã e por causa disso foi perseguido, perdendo o título de campeão mundial. Voltou cinco anos depois num dos combates mais espetaculares de todos os tempos. Com a astúcia que lhe era natural derrubou Foreman, um lutador mais forte e mais bem preparado. E onde? Na emblemática África.

Outro jovem, da mesma época, Elvis Presley, entendeu que os inconformistas haviam-no adotado com símbolo na luta contra o falso moralismo. Sua explosiva mistura de música negra, swing e rebolados sensuais chegaram à medida e hora certas para incomodar o conservadorismo tacanho que teimava em querer ditar as regras do viver.

Perceber a representatividade é um dom, uma arte a ser usada com parcimônia e, principalmente, com inteligência. O herói fica prisioneiro daquilo que representa, por isso tem que se manter fiel aos anseios do seu público e a si mesmo. Assim, Picasso representa a derrubada da estética nas artes plásticas, Coco Chanel a revolução da moda feminina e James Dean o inconformismo juvenil pós-guerra.

Churchill e Gandhi souberam usar do seu carisma e do poder das palavras, da presença e dos exemplos pessoais. Ambos representavam o momento das suas nações e precisavam mostrar coragem, determinação, paciência e garra. Políticos, esportistas, músicos, artistas, escritores e pensadores, quando percebem o valor dos seus significados e administram suas carreiras com sabedoria, se perpetuam. Ayrton Senna e Pelé entre nós, e Lady Di entre os ingleses, são bons exemplos.

Quando uma expressão humana emerge de forma notável e espontânea nas artes, esporte, música, literatura ou na política e, se não foi fabricada pelas técnicas do marketing e da comunicação, é porque o inconsciente coletivo estava preparado e ansioso por recebê-la e tinha um desejo latente de identificação. Assim nasceram grandes heróis. O escolhido, além de carisma, deve ser forte o bastante para sustentar as exigências da sua nova condição. Os fracos e falsos ficam no meio do caminho. Nada mais frustrante para um povo do que ver o ídolo, ansiosamente esperado, desmoronar em bases mal alicerçadas.

Na política, onde a representatividade deveria ser a mais sagrada das funções, não têm surgido nomes significativos nos últimos tempos, e na ausência deles, nosso povo mira-se nas celebridades do momento. As colunas sociais, esportivas e de variedades estão cheias delas.

Fonte: Eloi Zanetti

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Comunicação, comunicação empresarial e os 7 bilhões de habitantes

Em 31 de outubro de 2011 poderemos ser sete bilhões de habitantes sobre a Terra, segundo a UNFPA/ONU – Fundo de População das Nações Unidas, em meio às preocupações de Thomas Malthus (1766 – 1834) e em conformidade ou não com o que previu mais recentemente o Professor Paul R. Ehrlich, autor de “A bomba populacional”, em 1968. Mas não se trata de erros ou acertos. Trata-se de um fato. Cada vez mais se evidenciam situações paradoxais: aspectos que nos afetam ou afetarão direta e/ou indiretamente. A explosão populacional é mais um deles.

E o que tudo isso tem de relação com a comunicação?  Nossa vida só tem algum sentido pelo fato de nos comunicarmos. A comunicação é a essência, a matéria escura que sustenta a vida em sociedade. A essência do que nos torna comuns, também é a essência daquilo que nos torna incomuns. Estranho, porém, compreensível. Se não nos faltam os meios, talvez ainda nos falte vontade para construir um novo paradigma humano que nos considere, sinceramente, humanos.

A comunicação é tão natural entre nós que muitas vezes, ou quase sempre, não nos damos conta do seu valor. Será que já chegamos a imaginar como seria a falta dela entre nós da forma como julgamos conhecê-la? A comunicação humana se traduz numa infinita revolução e permitiu não somente a disseminação do desenvolvimento do conhecimento e das técnicas, mas acabou por reinventar várias vezes o próprio homem a partir da memória e das inúmeras referências revisitadas. Há muito não somos os mesmos e quem sabe onde iremos chegar. 

A utilidade e a convergência dos meios de comunicação parece não ter limite e nos traz a possibilidade de uma total comunhão, ao menos e por enquanto, com os limites do universo conhecido. Está posta uma espécie de múltipla sintonia, de diferentes freqüências e amplitudes que nos torna ao mesmo tempo próximos e empoderados, distantes e ameaçados. Com tudo isso nada é tão bom e nem tão ruim como parece. Consolida-se o paradoxo da liberdade.

A utilidade da comunicação tem, relativamente às suas interfaces, o poder de construir e destruir mediante o estabelecimento de um estado de permanente construção da “verdade”. Destruir de forma criadora num viés positivo e inovador ou criar de forma destrutiva num viés negativo e retrógrado. A verdade justificável é um processo dinâmico que vai da observação individual sobre o coletivo por meio de determinados padrões e de determinadas percepções e vice-versa. Consolida-se o paradoxo da realidade.

O nível de comunicação na atual sociedade em rede, distribuída, parece estar derrubando as barreiras da hierarquia e delegando mais poder e autoridade ao indivíduo. Mas o que é o poder senão o encontro entre o discurso e a ação comum e desde sempre disponível a todos? O poder é um estado transitório e não uma condição permanente. Quem pensa ter poder pode não detê-lo e quem o vivencia pode ainda não percebê-lo. Afinal, alguém o detém? Consolida-se o paradoxo do poder.

As organizações, invenção do homem, estão sujeitas às mesmas leis naturais da comunicação. Compreender as leis da comunicação como princípio geral e de onde provém toda sustentação dos propósitos ou desígnios humanos pode ser um passo determinante para fazer das organizações uma verdade justificável, real, percebida e vivenciada pelos indivíduos como fonte de experiências positivas. Resgatar o diálogo e a ação comunicativa, em detrimento da ação unicamente estratégica é resgatar nossa condição elementar. Consolida-se o paradoxo da simplicidade.   

Vida, comunicação, liberdade, realidade, poder, simplicidade, enfim: uma pequena síntese do próprio homem. Existe uma onda de sustentabilidade se espalhando numa busca integral pela conservação da vida em seu sentido mais amplo. Seja qual for a intenção da ação precisei optar por um dos lados. Escolhi o lado que considero positivo para concluir a provocação posta. Pode ser que a divisão do trabalho tenha sido altamente alienante, pois nos tornou autômatos em demasia, ao ponto do mecanicismo parecer sempre ter existido. Mas acredito haver muito espaço para revelarmos aspectos ainda mais ricos sobre a nossa condição humana. Consolida-se o paradoxo da racionalidade. 

Afinal, será que consideramos todos os sete bilhões de indivíduos como semelhantes, ou é um mero número, uma marca, um marco? Qual o papel da comunicação e dos comunicadores, que não por acaso somos todos nós? Trata-se apenas de um pequeno recorte sobre um tema que deveria diariamente nos “incomodar” no sentido positivo.

Fonte: Paul Edman