segunda-feira, 23 de maio de 2011

Jornalismo em agribusiness

O jornalismo em agribusiness, denominação moderna do jornalismo agrícola, compreende o trabalho jornalístico focado no agribusiness e veiculado em diferentes meios de comunicação, como jornais, revistas, newsletters, telejornais, programas específicos de rádio e TV ou mesmo em canais de assinatura, como o competente Canal Rural, da RBS, além da Web. Ele também é praticado por empresas que trabalham no agronegócio, incluindo-se aí não apenas os produtores agropecuários, mas os institutos e empresas de pesquisa. A Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária pratica de há muito, um excelente jornalismo em agribusiness, contando, para tanto, com um grupo importante de jornalistas, locados em sua sede ou em suas unidades, distribuídas por quase todas as unidades da Federação. Assim como ela, outras empresas vinculadas ao agronegócio (Cargill, Souza Cruz, empresas estaduais de pesquisa agropecuária etc), editam veículos visando comunicar-se com diferentes públicos.

O jornalismo centrado na divulgação da pesquisa agropecuária existe há mais de um século em nosso país, ressaltando-se a contribuição pioneira de alguns veículos, como o Balde Branco e A Lavoura, dentre as revistas tradicionais , o suplemento agrícola do jornal O Estado de S. Paulo e mais recentemente o programa Globo Rural, importante escola do jornalismo em agribusiness do País. A revista Globo Rural, também da Rede Globo, merece também ser citada pela contribuição relevante ao debate e à divulgação da ciência e da tecnologia e da cultura rural brasileira.

O jornalismo em agribusiness também é atuante na Internet, notando-se o crescimento do número de sites voltados para o agronegócio, com a participação efetiva de jornalistas.

O jornalismo em agribusiness moderno evoluiu do antigo conceito, que se limitava a abranger e a divulgar o trabalho " dentro da porteira" , ou seja basicamente a pesquisa agronômica (aliás, os primeiros veículos eram produzidos por engenheiros agrônomos lotados nas universidades e nos institutos de pesquisa), para tratar a questão do agribusiness no sentido amplo. Hoje, ele trabalha, com naturalidade, todo o processo de comunicação do agronegócio, incluindo o "antes e o depois da porteira", portanto interessando-se pela pesquisa agropecuária, pelos fornecedores de insumos agrícolas e também pelo sistema de distribuição dos produtos agropecuários. Basta verificar o noticiário relativo aos leilões (e a publicidade correspondente) que inunda os veículos agropecuários, em particular alguns suplementos agrícolas paulistas).

Esta pauta ampliada incluiu novos usuários desta informação e, talvez mesmo por este motivo, o jornalismo em agribusiness é consumido, nos dias de hoje, por um contingente significativo de pessoas que moram na cidade e não têm interesses específicos no campo. Dentre os telespectadores que acompanham o programa Globo Rural, milhões vivem nas grandes cidades, mas são atraídos pela temática abrangente, que privilegia a cultura rural, e, evidentemente, pelo bom jornalismo que lá se pratica.

O Jornalismo em Agribusiness é um caso particular do Jornalismo Científico, especialmente quando se reporta à divulgação da pesquisa agropecuária, assim como são casos particulares do Jornalismo Científico o Jornalismo Ambiental, o Jornalismo em Saúde, o Jornalismo Econômico e o Jornalismo em Informática.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ética e comunicação


A comunicação não está isenta das preocupações éticas. Isso porque a comunicação, por seus meios, técnicas, canais e processos, possui ampla capacidade de dispersão de idéias, informações, conceitos, sendo capaz de movimentar culturas. Isso tem valor, sobretudo, para civilizações marcadas pela ascensão da mass media e pelos processos de aculturação das massas pelas formas televisivas, jornalísticas, radiofônicas, informáticas e internéticas de difusão de informações e conhecimentos. A comunicação, enfim, nunca foi tão importante na constituição da mediação entre os indivíduos em sociedade. Também, nunca foi tão importante a presença da ética na comunicação.

As maiores acusações contra a mass media são apresentadas e apontadas por Umberto Eco:

a) basta-se com o gosto médio do público heterogêneo ao qual se refere;

b) proporciona a homogeneização da cultura universal;

c) manipula o auditório ao qual se dirige, em função de ser inconsciente dos processos aos quais está sendo submetido;

d) conserva o que é de maior difusão, mantendo os valores sociais de maior aceitação passada e atravancando a originalidade;

e) usa meios sonoros e plásticos não de sugerir valores, mas de impô-los e subliminarmente torná-los necessários;

f) funciona na base do sistema de oferta e procura, atendendo a demandas econômicas e marqueteiras;

g) sintetiza a cultura superior e institui a condensação formular que impede o desenvolvimento do raciocínio;

h) equipara produtos de diversos gêneros e culturas de diversos escalões num tabuleiro de igualdades indiferentes;

i) estimula a consciência acrítica e a aceitação de valores e imagens;

j) renega a consciência histórica com o passado, enfocando somente questões do presente;

k) não desperta a atenção de aprofundamento, mas somente a de superfície;

l) padroniza gostos, ícones e símbolos coletivos e universais, em detrimento da individualidade;

m) adota e assimila a opinião comum, geral, a consciência aceita sobre fatos e acontecimentos;

n) forma modelos oficiais da cultura, entroniza umas coisas e marginaliza outras;

o) dissemina uma cultura que não nasce de baixo para cima, mas de cima para baixo, crestando toda a naturalidade do processo de produção e reprodução de valores.

Isto não a torna a vilã social, ou a semente da destruição plantada por mentes diabólicas. Seus erros e suas restrições são passíveis de correção e reajustamento, sobretudo levando-se em consideração que a mass media não pode estar a serviço da arbitrariedade. A não-arbitrariedade é um dever para os meios de comunicação. Esse dever possui dupla natureza: ética e jurídica.

Mas, quando todo tipo de meio de comunicação social aparece transfigurado e servilizado aos modos mercantis de estimular o consumo e a reprodução de bens econômicos, quando multidões aplaudem (por índices do IBOPE), em horário nobre, os escândalos familiares, as chantagens, os rumores sexuais, a desmoralização de instituições sociais, a violência disentérica dos atentados e assassínios (narrados e filmados em minúcias), a disseminação da exploração da imagem alheia, fatos sensacionalistas e de aterradora natureza reproduzidos pelos canais televisivos de comunicação... há sintomas de perda de significado e de banalização da cultura real da comunicação.

Neste momento, sente-se a necessidade, ou seja, passa-se a demandar a intervenção do direito na regulamentação da liberdade de imprensa, nos processos de dispersão de idéias, nas formas de se conceber e disseminar conhecimentos desde que a própria liberdade de co-existência digna em sociedade é atingida pelo aviltamento dos meios de comunicação. Formam-se exigências as mais diversas no sentido da implementação de códigos disciplinares e éticos, não por outro motivo senão aquele segundo o qual se deseja um processo e divulgação de informações e idéias que não firam valores ainda maiores que os contidos no direito de se comunicar e de informar.

Quer-se dizer que, deixando de simplesmente comunicar e informar, a mass media passa a atender a pressões externas, abandonando simplesmente a ética em nome de outros interesses, faz-se mister a intervenção de expedientes jurídicos para coibir abusos no exercício da liberdade de expressão (exploração da miséria humana; exposição pública ao ridículo de pessoa humana; manipulação de informações; uso da imagem do menor infrator; prática de atestado moral à personalidade humana; exposição de filmes pornográficos e imagens eróticas em horários inconvenientes para públicos inconvenientes...).

Seja através de medidas judiciais cabíveis, seja através da elaboração de normas jurídicas aplicáveis ao setor, o que se percebe é que quando a liberdade cultural, de pensamento e de imprensa, se choca com interesses sociais ainda maiores, torna-se necessário disciplinar a liberdade para que não se converta em libertinagem.

Tudo isso é muito diferente se se pensar em constranger ou cassar o direito à livre expressão, garantido constitucionalmente (incisos IV, IX, XXVII e XXVIII do art. 5 da CF 88). Nem a censura nem a castração da palavra são soluções plausíveis. O que se quer dizer ao se mencionar a necessidade de instituir a disciplina dos meios de comunicação é que o comportamento comunicacional também possui sua ética, que deve ser estudada e debatida amplamente junto à sociedade, como forma de fazer dos meios de comunicação instrumentos que efetivamente sirvam à causa social e não exclusivamente a interesses escusos.

Os processos midiáticos de disseminação de informação devem se ancorar no dever e no compromisso de formarem e de contribuírem para o desenvolvimento da cultura e da cidadania nos meios sociais. Quando esses canais passam a dar guarida à divulgação de ideologias únicas e a colaborar para os processos de expansão das formas de exploração da imagem humana e do deliberado consumismo, há que se entrever nisso uma certa distorção de fins. O que há de se garantir é que a publicidade, o marketing, a comunicação, a propaganda, o jornalismo, a arte e a expressão se exerçam com base num código ético, e não por códigos de auto-regulamentação setorial, que são, por natureza, servis às necessidades dos interesses regionais que movimentam essas áreas.

O discurso da mídia não pode ser usado da forma que se deseja, ou direcionado de acordo com este ou aquele interesse unilateral; trata-se de um instrumento de relacionamento humano que constitui valores, forma idéias, movimenta ideologias, distorce conceitos, dissemina o ódio, cancela ideais, origina o proselitismo religioso, planta a discórdia, envenena relações políticas, dissemina preconceitos... .

A mídia informa, mas também forma. É exatamente por isso que não é isenta de responsabilidades sociais, culturais, educacionais e, sobretudo, ético-jurídicas.


Fonte: Prof. Eduardo C. B. Bittar (Faculdade de Direito – USP)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Jornalismo empresarial

O Jornalismo Empresarial abrange um amplo elenco de atividades desenvolvidas em empresas e entidades com vistas à divulgação de seus fatos e realizações. Na prática, ele compreende não apenas as ações de relacionamento com a mídia, mas a elaboração de veículos jornalísticos para comunicação com determinados públicos e com a sociedade em geral.

O Jornalismo Empresarial vem, pouco a pouco, se profissionalizando, assumindo também novos contornos. Recentemente, incorporou à sua perspectiva essencialmente institucional, praticada nos anos 70, 80 e até a metade da década de 90, uma visão negocial ou mercadológica, ou seja tem estado mais focado no " business", o que lhe confere maior importância estratégica.

O jornalista empresarial passou de mero executor de tarefas (redator de house organs, produtor de releases etc) a executivo da informação, respondendo pela leitura do macroambiente, pela planejamento e avaliação de oportunidades de divulgação e, felizmente, muitas empresas já não encaram como ócio a atividade regular, exercida pelo jornalista, de leitura quotidiana e criteriosa dos meios de comunicação.

O jornalismo empresarial tem recrutado excelentes profissionais na mídia convencional (pode-se citar sempre os casos do jornalista Miguel Jorge que, ao deixar a Volkswagen, onde fez escola como executivo competente, para comandar a comunicação em uma empresa do sistema financeiro, virou pauta da imprensa, assim como o do jornalista Walter Nori, que marcou época como executivo da Rhodia - " abrindo as portas da empresa" -e continua atuante no meio).

 Hoje, o jornalismo empresarial se efetiva, também, nas associações de classe ou nas entidades patronais (FIESP, CNI etc), mas também nas empresas do chamado Terceiro Setor (esta competência pode ser vista, por exemplo, no Instituto Ethos ou na Rits - Rede de Informações para o Terceiro Setor ) e é responsável pelo incremento da circulação das informações na sociedade. Felizmente, superamos o momento triste da ditatura, em que as empresas e entidades, premidas pela censura e mais ainda pela auto-censura, limitavam-se, quando muito, a emitir comunidados oficiais. O jornalismo empresarial concorreu para esta abertura e passou a ser uma exigência num mercado competitivo em que a transparência é um atributo indispensável.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Jornalismo econômico

O Jornalismo Econômico diz respeito à atividade jornalística centrada na cobertura e debate de temas afetos à economia, negócios e finanças e tem uma larga tradição em nosso País.

Com a abertura política (e também a econômica), esta modalidade do Jornalismo experimentou grande expansão, com o aparecimento de cadernos de economia nos jornais de informação geral, a consolidação de veículos especializados tradicionais e o surgimento de novos representantes e, sobretudo, a multiplicação de títulos de revistas focadas nesta temática. Citam-se como referências importantes no cenário brasileiro os jornais Gazeta Mercantil, Valor Econômico e Jornal do Commercio/RJ; as revistas Exame, Carta Capital, Isto É Dinheiro, Forbes, Amanhã e América Economia, dentre outras, e os cadernos de economia dos principais jornais brasileiros (não só os de circulação dita nacional, mas também os de alcance regional).

Alguns jornalistas que atuam nesta área também são bastante prestigiados, muitas vezes constituindo-se , no caso dos colunistas, em espaços nobres dos veículos, dada a sua enorme audiência: Luis Nassif , Joelmir Beting e Lilian Witte Fibe, dentre muitos outros, podem ser aqui mencionados como exemplos.

A Internet tem valorizado, sobremaneira, o Jornalismo Econômico, com o surgimento de sites especializados em negócios, economia e finanças, além daqueles que representam meras extensões (ainda que atualizadas e interativas) dos veículos e colunistas já mencionados.

Uma observação importante que deve ser feita com respeito ao Jornalismo Econômico atual é a influência que os clientes dos jornalistas e colunistas (que mantêm, em muitos casos - cada vez mais freqüentes - suas empresas de prestação de serviços) teoricamente poderiam ter na condução de seu trabalho, o que comprometeria a isenção de suas matérias e colunas.

A parceria entre veículos de comunicação e empresas comerciais (para não falar dos casos em que grupos empresariais detêm o controle explicito dos veículos) tenderia, segundo alguns analistas, a reforçar esta dependência, contaminando definitivamente a cobertura na área.

Há que se ressaltar a competência do Jornalismo Econômico praticado no País, responsável por tornar conhecidas as nossas empresas e por estimular o debate sobre políticas econômicas governamentais, formação de blocos regionais e outros temas complexos.

Indica-se como texto fundamental, particularmente em virtude de sua perspectiva crítica, o trabalho do professor e jornalista Bernardo Kucinski, Jornalismo Econômico, editado pela Editora da USP, São Paulo, 1.996, agraciado, justamente, com o Prêmio Jabuti.

domingo, 15 de maio de 2011

Jornalismo científico

O Jornalismo Científico diz respeito à divulgação da ciência e tecnologia pelos meios de comunicação de massa, segundo os critérios e o sistema de produção jornalística.

É importante, pois, atentar para as duas partes essenciais desta expressão e que definem o conceito: o Jornalismo e o Científico. Isso porque é possível encontrar, nos meios de comunicação de massa, onde se manifesta a atividade jornalística, textos, artigos ou materiais sobre temas de ciência e tecnologia e que não podem ser considerados jornalismo cientifico, exatamente porque não é, em princípio, jornalismo. Estranho? Nem tanto: nos jornais e revistas, estão incluídos os anúncios e estas mensagens são publicidade e não, jornalismo. Repetindo a lição: nem tudo que fala sobre ciência e está escrito em jornais ou revistas é jornalismo científico.

Outro exemplo: uma coleção de fascículos sobre história da ciência e da tecnologia, encartada num jornal ou revista, não se constitui em exemplo de Jornalismo Científico. Ela está localizada no campo da editoração, que é outra coisa.

Mais dois exemplos? O Caderno Resenhas, publicado pela Folha de São Paulo, a partir de um acordo com a Universidade de São Paulo, discorre sobre temas de ciência, mas não faz qualquer concessão ao discurso jornalístico, nem tem qualquer compromisso com a atualidade. Alguns artigos publicados pela revista Ciência Hoje, da SBPC, escritas por pesquisadores, apesar de bem ilustradas, não podem ser incluídos na categoria Jornalismo Científico. Não porque não sejam bons, mas porque nada tem a ver com o Jornalismo.

Não se quer dizer, com isso, que todos estes materiais não sejam importantes e não devam ser consultados. Pelo contrário, devemos levantar as mãos para os céus, quando um veículo de comunicação se dispõe a produzir fascículos sobre história da ciência e da tecnologia, louvar o aparecimento do Caderno Resenhas e agradecer, pelo resto da vida, à SBPC pela revista Ciência Hoje, a mais importante contribuição à divulgação cientifica da ciência e da tecnologia nacionais.

Divulgação científica e Jornalismo Científico não é a mesma coisa, embora estejam muito próximas. Ambos se destinam ao chamado público leigo, com a intenção de democratizar as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência e tecnologia), mas a primeira não é jornalismo. É o caso, tanto dos fascículos como de uma série de palestras que traduz em linguagem adequada a ciência e a tecnologia para o cidadão comum. Assim como os fascículos, palestra não se enquadra dentre os gêneros do Jornalismo. Mais uma coisa para guardar: o Jornalismo Científico é um caso particular de Divulgação Científica: é uma forma de divulgação endereçada ao público leigo, mas que obedece ao padrão de produção jornalística. Mas nem toda a Divulgação Científica se confunde com Jornalismo Científico. Os fasciculos são um exemplo, as palestras para popularizar a ciência são outro e os livros didáticos mais um ainda.

Já o Caderno Resenhas nem seria divulgação científica porque o público a que se destina não é o cidadão comum. O que seria então? Aí temos outra modalidade de difusão de ciência e tecnologia, chamada disseminação científica, que é aquela que tem como público-alvo os especialistas, os próprios pesquisadores e cientistas. A disseminação científica ocorre também nas revistas científicas, nos materiais (comunicações, pesquisas e ensaios) apresentados nos eventos científicos e assim por diante.

Então, é preciso ficar claro: Jornalismo Científico, Divulgação Científica e Disseminação Científica são conceitos diferentes e exprimem manifestações diversas do processo amplo de difusão de informações sobre ciência e tecnologia.

É importante perceber isso? Achamos que sim. E se a Folha de S. Paulo tivesse esta consciência, não distribuiria 400 mil ou mais exemplares do Caderno de Resenhas, encartados no jornal, se, por definição e linguagem, eles são acessíveis talvez (sendo muito otimista) a um 10% deste total. Uma dica: distribuir de graça para os interessados, o que fica reduziria sensivelmente os custos. O papel utilizado, a distribuição e a impressão destes Cadernos implicam em custos elevados e não há dúvida de que a maior parte dos leitores descarta de pronto, os Cadernos, sem ao menos folheá-lo. Afinal de contas, nem tudo que vem com a edição do jornal é para ser lido, não é mesmo? Um lembrete: os Cadernos são importantíssimos, mas talvez a mídia não seja a mais adequada, porque não é este o perfil básico do leitor de um jornal de informação geral, mesmo sendo de prestígio, como a Folha de S. Paulo.

O Jornalismo Científico, que deve ser em primeiro lugar Jornalismo, depende estritamente de alguns parâmetros que tipificam o jornalismo, como a periodicidade, a atualidade e a difusão coletiva. O Jornalismo, enquanto atividade profissional, modalidade de discurso e forma de produção tem características próprias, gêneros próprios e assim por diante.
      
Já tivemos suplementos de ciência nos jornais que eram produzidos por cientistas e pesquisadores, nem um pouco comprometidos com o Jornalismo. Simplesmente, eram reproduzidos nos jornais e revistas textos ou ensaios inéditos ou já apresentados em congressos científicos, quase sempre inacessíveis ao leitor comum. Jornalismo Científico? De forma alguma. Então, disto isto, está tudo dominado?

O Brasil tem uma larga tradição no Jornalismo Científico e alguns pesquisadores da história do Jornalismo, como o prof. dr. José Marques de Melo, já percebiam manifestações desta modalidade de Jornalismo no século 19, em Hipólito da Costa, fundador do Correio Braziliense.

O decano do Jornalismo Científico Brasileiro é José Reis que, há mais de 50 anos, escreve regularmente na Folha de S. Paulo e que tem contribuição relevante tanto ao jornalismo e à divulgação científicos como à ciência nacional, destacando-se como emérito pesquisador. A USP mantém, há muitos anos, o Núcleo José Reis que promove, sistematicamente, cursos, edita publicações e realiza pesquisas em Jornalismo Científico. José Reis também é o nome de um concurso nacional para premiar iniciativas na área do Jornalismo e da Divulgação Científica. Internacionalmente, dentre tantos outros estudiosos e pesquisadores, é imperioso ressaltar a contribuição de Manuel Calvo Hernando, jornalista e professor espanhol, que há décadas vem formando e estimulando a criação de núcleos de jornalismo científico em toda a América Latina. Os trabalhos de Calvo Hernando são referência nos estudos e pesquisas em Jornalismo Científico e é incansável o seu trabalho, desenvolvido junto à Associação de Jornalismo Cientifico na Espanha e na Associação Iberoamericana de Jornalismo Científico, da qual foi presidente e continua atuante como diretor.

O Jornalismo Científico brasileiro tem se profissionalizado nos últimos anos a partir, sobretudo, da contribuição da Universidade, com a constituição de agências experimentais de notícias em que há participação efetiva dos futuros profissionais de jornalismo. A FAPESP, recentemente, instituiu um projeto para incentivo à formação de jornalistas científicos. A UMESP tem uma área de pesquisa há algum tempo, em seu programa de pós-graduação em Comunicação Social, voltada para a comunicação científica (e o jornalismo científico, em particular), com dezenas de dissertações e teses já defendidas. A Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Pernambuco também se ocupam deste tema. Temos também, a exemplo de outros países, uma Associação de Jornalismo Científico, a ABJC, constituída por cerca de 400 sócios. Merece menção aqui a participação, desde o seu início, de dr. Júlio Abramczyk, conceituado médico e jornalista, redator médico da Folha, seu ex-presidente, responsável, certamente, pelo seu desenvolvimento.

O Jornalismo Científico também ganhou a Internet e manifestações importantes podem ser aí percebidas, com o jornal eletrônico Consciência, vinculado ao Labjor/Unicamp, o site Ciênciapress, da bióloga e divulgadora científica Glória Malavoglia e o debate ampliado pelo importante Observatório da Imprensa. Os grandes veículos de divulgação também praticam o Jornalismo Científico na rede mundial, com destaque ao jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Jornal do Commercio/PE e O Povo/CE, dentre muitos outros.

É preciso ter em mente que o Jornalismo Científico abrange não apenas as chamadas " ciências duras" - Física, Química etc, mas inclui as ciências humanas (Educação, Sociologia, Comunicação etc) e que, em virtude da especialização em algumas áreas, tem assumido denominações particulares,em alguns casos, como o Jornalismo Ambiental, o Jornalismo em Agribusiness, o Jornalismo em Saúde, o Jornalismo Econômico , o Jornalismo em Informática etc. Na prática, no entanto, todas estas manifestações específicas remetem para o Jornalismo Científico, entendido aqui como o termo genérico, mais abrangente.