domingo, 2 de outubro de 2011

Críticos e passivos

É comum, com tanta informação, passarmos por um período de anestesia.

Seja no âmbito regional ou global, a informação flui de modo mais acelerado, e isso não é novidade para nenhum de nós. O problema está em um dos possíveis resultados desta hiperestesia informativa, ou seja, estar informado nos parece uma ação.

Para ser mais claro, é como se apenas o fato de acompanhar notícias na mídia e nos blogs sobre a crise na Grécia fizesse com que algumas pessoas se sintam politicamente engajadas e ativas. As pessoas se convencem de que se engajaram e acompanham escândalos no senado, conflitos armados nas cidades brasileiras e tantos outros pontos de suas casas, com suas várias telas e redes. Saber que acontece é quase um dogma naquela sociedade da informação de anos atrás. 

São tantos tuítes e comentários em redes sociais. Somos agentes da informação, sim, mas por vezes profissionais e público se satisfazem com a sutileza e o sarcasmo no Facebook, uma foto com um comentário divertido no Orkut. Uma piadinha matinal do Twitter resolve a necessidade de participar do mundo. Criticamos mas permanecemos sentados.

Tanto quanto assistir ao telejornal e comentar com alguém não é algo completamente transformador, tuitar os problemas do mundo, mas não se dedicar a nenhum deles de modo participativo leva a um resultado similar.

Nas empresas isso não é diferente.

O presidente anuncia os números de vendas ou da pesquisa de satisfação, por exemplo, e muitos já sentem que fizeram muito apenas ao responder aquelas perguntas.

Como fazer com que a informação não seja, em casos como estes, uma anestesia dentro do processo dialógico? Parte da resposta pode estar no esforço para reverter a desvalorização do fluxo comunicacional, que inclusive é estimulado por muitos profissionais das áreas humanas que, encantados com algumas bandeiras levantadas por escolas como a behaviorista, ainda acreditam em um fluxo de convencimento e motivação originado exclusivamente nos grupos emissores de líderes ou gestores.

O comprometimento vai além da pura informação, mesmo que ela venha revestida de um layout magnífico e trate inclusive de bônus por metas ou de qualquer benefício explícito.

Isso se torna claro a cada vez que um companheiro de trabalho conta que está de partida para o tão falado novo desafio dos que pedem as contas. Quantos não deixam anos de história conjunta por acreditarem que os valores não evoluíram ou que a prática já se distanciou por demais do discurso corporativo?

Cada nova onda de informações sobrepostas faz com que os colaboradores prestem menos atenção aos detalhes, presos à necessidade de ver tudo, saber de tudo. O paradoxo do conhecimento, muito claro na academia, que indica que ao se aproximar muito de algo, inevitavelmente, perde-se a visão dinâmica do todo, e ao se distanciar para conquistar a percepção holística chegamos à perda da especificidade e do detalhamento, mostra-se plenamente aplicável em casos assim.

Informar os benefícios, informar as metas, informar os valores. Publicar o balanço, publicar algumas histórias, publicar fotos e conquistas. Tanta emissão e ainda pressupomos que engajamos. 

É momento de revisão da qualidade das nossas comunicações. Mais do que necessária, a revisão do trabalho do comunicador carece de reflexões constantes. Os modelos e padrões muito bem servem para uma comunicação administrativa, com objetivos bem definidos e tangíveis, mas quando entramos no âmbito humano, intangível, subjetivo, já não é suficiente tratar o público com mudanças de letras e palavras, é preciso ir mais a fundo e deixar de comunicar e passar a conversar, mas que informar não seja um processo estanque, mas o início de uma ação, conjunta, plástica e transformadora.

Fonte: Mauricio Felício

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