terça-feira, 4 de outubro de 2011

A comunicação e o trabalho infeliz



Abro o meu texto com uma reflexão acerca do papel do trabalho em nossa sociedade, feita pelo escritor norte-americano William Faulkner, em uma entrevista para a célebre Paris Review1, em 1956.  Sobre o batente nosso de cada dia, o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1949, não mediu as suas palavras: “Na minha opinião, é uma pena haver tanto trabalho no mundo. Uma das coisas mais tristes que existem é que a única coisa que um homem pode fazer durante oito horas por dia, todos os dias, é trabalhar. Você não pode comer oito horas por dia, nem beber oito horas por dia, nem fazer amor por oito horas – você só pode trabalhar por oito horas. E é por essa razão que o homem faz a si mesmo e a todos os outros tão miseráveis e infelizes”.  É atualíssima a discussão sobre a centralidade do trabalho, feita por um dos maiores narradores da literatura norte-americana. O trabalho devorador de tudo a sua volta, com a força de um buraco negro. Fim, e não um dos meios, para tocar a vida para a frente e, com sorte, ser feliz.

Na entrevista, Faulkner deixa clara a sua preocupação em não ter toda a sua vida criativa sugada por um tempo destinado exclusivamente para as metas e a produtividade do mundo organizacional.  Lugar onde, nós sabemos, os objetivos, os rumos, as mudanças, as inovações – tudo isso expresso em números e percentagens, que, na maioria das vezes, não são causas compreendidas pelos empregados – indivíduos vistos como uma massa homogênea, sentida e monitorada por um feixe de índices que estruturam indicadores de ambiência e de felicidade.  Transformados em rankings produzidos pela indústria editorial que servem como artifício psicológico e institucional para legitimar do ponto de vista de quem toma decisões dentro dos escritórios e das fábricas, os sistemas produtores da desumanização em massa. 

A infelicidade no mundo atual é, também, consequência da eleição do trabalho como único centro da vida cotidiana. Ser apenas trabalhador é ser insustentável frente a uma realidade social - além das empresas e instituições - que demanda pessoas que valorizem a criação, o humor, a intuição, as artes, as afetividades e as narrativas semeadas de paixões. 

A comunicação empresarial, principalmente na sua vertente direcionada aos empregados, transformada em um manual de narrativas estéreis e frias, em que a ordem é o tom, é expressão de uma administração insensível e datada.  Os temas de uma nova administração devem passar pela afetividade, o convívio (assentado no consenso e no dissenso), a comensalidade, a fruição, o tempo para pensar. E expressiva desses temas será uma comunicação com os empregados que combata a miséria e a infelicidade, geradas do trabalho que se arvora como único produtor de nossas identidades.  Uma comunicação com os empregados que não coloca em xeque o significado do trabalho no mundo não é relevante. É apenas um passatempo para comunicadores esmagados pela rotina de trabalho

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