quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sustentabilidade, comunicação interna e a prevenção de crises



O maior acidente ambiental da história dos EUA, com o vazamento de óleo no Golfo do México, em 2010, nos mostrou que três grandes empresas (BP, Haliburton e Transocean) deveriam ter se comunicado melhor para trocar conhecimentos vitais nos processos de trabalho e integrar os elos da terceirização. Como as crises não escolhem hora, nem lugar, recentemente outro acidente ambiental, desta vez sob a bandeira da Chevron, no litoral brasileiro, dilapidou valor dessa gigante global e de sua marca.

Num mundo complexo e cheio de riscos - cada vez mais abrangentes e de impactos globais, uma desculpa como a da "imprevisibilidade dos acontecimentos" há tempos não encontra mais espaço nas mesas de reunião. Prevenir riscos é questão fundamental para quem se pretende se tornar “sustentável”.

Nesse sentido, a sustentabilidade e sua exigência por "paradigmas de referência cósmica" (ASHLEY, 2002, P.49) servem como uma bússola para o mapeamento sistêmico de riscos através de um aprendizado permanente da empresa em suas relações em rede, com diferentes stakeholders.

A sustentabilidade em suas dimensões ambientais, sociais, econômicas, culturais, afetivas e até espirituais é muito mais do que um air bag preventivo de crises nos diferentes segmentos do negócio. Ela é transformação da empresa enquanto máquina, para uma empresa mais humana, coerente e consciente de suas responsabilidades, de seus cuidados para com a vida no planeta.

Na visão sistêmica de uma companhia tal qual uma “organização do vivo” (ROMESÍN e GARCIA, 1997) onde a dinâmica do trabalho pode ser comparada com os movimentos internos de um corpo e não mais como engrenagens maquinímicas, suas células, fluxos, nervos, emoções e musculatura pulsam de maneira integrada. Aqui, mais uma vez, podemos perceber o valor do reunir, organizar, interagir e produzir sob as lentes da sustentabilidade.

No delicado equilíbrio entre cada órgão, cada ponto de contato influi no conjunto vivo, assim como uma pequena pedra no sapato machuca e compromete o balanço do caminhar. Diante disso, não é difícil entender que a comunicação interna pode facilitar a identificação de pontos fragilizados, atuando na prevenção de riscos e de crises. Para essa perspectiva se realizar, a comunicação deve fluir espontânea, aberta e participativa. Não há organismo vivo onde a comunicação seja estanque ou fragmentada. Um ser vivo é a prova essencial de que o comunicar renova, anima e constrói, unindo as partes num todo comum indissociável.

No perceber de que um “negócio sustentável” é como este corpo indivisível e inseparável do meio no qual habita, a empresa descobre-se interdependente de seus próprios órgãos e de suas relações. Nada existe por si só, assim como não existe cultura para um ser-humano solitário. Uma empresa não é um astro cujos satélites giram ao seu redor. A teia é multifacetada, as órbitas se confundem e o equilíbrio dinâmico reina sobre o conjunto.

É diante dessa premissa que a comunicação interna harmoniza relações e esclarece o processo de busca da sustentabilidade corporativa, de modo a prever possíveis crises e a administrá-las com a necessária coerência entre o pensar, o sentir e o agir.

Imagina-se que se a comunicação interna fosse fluída, constante, com canais confiáveis e transparentes, os riscos dos acidentes da BP e da Chevron poderiam ter sido considerados com a devida cautela. Quem sabe, até evitados. Tudo indica que não foi isso que aconteceu.

Se as lideranças não sabem se comunicar, pois não sabem ouvir, o processo de role-modeling cria uma cultura avessa à comunicação, qual um organismo vivo funcionando com um marca passo de controle artificial e externo. A crise surge (e ressurgirá) como sintoma da doença do silêncio e da arrogância, características perigosas do descaso com uma verdadeira “ética do cuidado”.

Se os sinais de fragilidade deveriam ter sido ouvidos através de uma boa conversa, foram os alertas atentos do pessoal da operação que ficaram perdidos pelos corredores. A palavra, princípio essencial da comunicação interna, encontrou portas e corações fechados. A sustentabilidade ficou reduzidaao anúncio publicitário, uma intenção distante da realidade.

O prejuízo com a crise, nos dois exemplos citados, trouxe uma fatura mais cara e pesada aos bolsos dos acionistas do que as ações preventivas, do que o planejamento de uma comunicação interna capaz de circular como o oxigênio:vital para qualquer célula respirar. Vamos lembrar que os escritórios de advocacia agora envolvidos nas questões judiciais, nas multas, licenças, processos e indenizações são muito mais dispendiosos do que a elaboração de uma política de comunicação interna alinhada à sustentabilidade, da existência de uma equipe de comunicadores levada à sério em suas recomendações.Isso sem falar nas pancadas que a reputação dessas empresas sofreu.

Sustentabilidade, prevenção de riscos, comunicação interna e gestão de crisesdevem andar assim, juntas como o físico, a mente, a emoção e o espírito. E, como as crises nos obrigam a entender: inseparáveis.

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