segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Comunicadores como tricoteiros

Ano novo, tempos novos, tempos nossos. Ano bissexto, com 366 dias para desenrolarmos interessantes narrativas, unirmos novos pontos e nos envolvermos em comunicações inovadoras. Para fazer, desfazer e refazer os nós da vida e tramar, de forma organizada, representações em palavras e imagens, ações em histórias e sentimentos em memórias. Tempo de exercício de humildade e de curiosidade - do bem pensar para o entrelaçamento das virtudes, dos talentos e das destrezas com a vivacidade, o olhar prudente e o sentido da oportunidade.

É preciso refletir sobre o que já foi arrematado, unido e construído no passado para reconhecer os esforços, as fraquezas e as qualidades, mas também planejar os pontos futuros. É preciso observar os meios fornecidos pelas tramas que a vida vai tecendo, para que possam ser adaptados os talentos às oportunidades que surgirão, porque sem as oportunidades, o valor pessoal se terá apagado e sem a virtude, as ocasiões surgem em vão, como coloca Maquiavel em “O Príncipe”, livro escrito em 1513.

Tricotamos os primeiros pontos do novo ano. E o que devemos esperar encontrar durante o entrelaçar dos dias e dos acontecimentos? Oportunidades. Incertas serão, mas devemos saber enxergá-las e adaptar nossos talentos a elas. Em uma realidade complexa, parecemos estar envoltos sobre o caos, onde tudo pode acontecer e nada pode ser previsto. Porém, em um universo cristão, em que Deus faz tudo segundo um propósito, a expressão popular de que “Deus é tricoteiro”, evidencia que Ele passa a dar sentido a todo o caos, arrematando os nós da vida. Demonstra que, perante uma realização, ponto a ponto vivenciado e experimentado são importantes, e que as voltas que a vida dá acabam por se enlaçarem em uma definição significativa de que é no caos que as oportunidades também são tecidas.

Com as novas tecnologias e com as redes sociais, o caos parece evidenciar as imprevisões e as reações das pessoas em relação a uma comunicação. É preciso enxergar as oportunidades tecidas nesta realidade digital e adaptar a elas as habilidades, agilidades e desembaraços de um comunicador. Enredar-nos em ações comunicacionais inovadoras, como o desenrolar de boas narrativas, que vão sendo entrelaçadas com as experiências, histórias e memórias dos participantes. Dessa maneira, eles podem se envolver e perceber que todos os pontos por eles vivenciados e experimentados produzem também um resultado significativo.

As pessoas querem ser livres, participar, agir, dar suas opiniões e contar suas histórias, mas também querem que seus atos e palavras tenham algum efeito, resposta e sentido. É o que podemos notar, por exemplo, nas comunidades online: grandes oportunidades para a comunicação empresarial. Devemos observar os valores das histórias contadas, as informações compartilhadas e os interesses semelhantes. Essas micronarrativas, tecidas em depoimentos e comentários, criam e recriam o sentido da comunicação, entrelaçando pontos de vista e sentimentos.

Ocorre um tricotar de experiências, as quais, ponto por ponto, as pessoas vão construindo uma narrativa maior, acrescentando suas verdades e a enriquecendo. Segundo Nassar (2012), é importante para o comunicador empresarial entender que estas pequenas narrativas compartilhadas constroem uma narrativa alicerçada naquilo que foi (ou é) relevante para cada indivíduo, grupo ou organização. Se este ponto for considerado, mais facilmente será possível uma comunicação efetiva, focada nas crenças, na cultura, no comportamento e nos símbolos, pelos quais as pessoas se identificam. Por isso, torna-se tão relevante tricotar estes pontos e dar um sentido a eles, a favor tanto do que a empresa deseja comunicar como em relação aos efeitos que os participantes esperam.

Esta troca de experiências comuns, este compartilhamento de conhecimento nas comunidades online, acabam por consolidar relacionamentos de confiança entre os membros, convencendo-se fielmente sobre aquilo que comunicam uns aos outros. Por isso, mais importante que o conteúdo entrelaçado pelos tricoteiros das comunidades, ou seja, melhor que a “fofoca” em si, seja em relação a um produto ou a uma marca, são os vínculos sociais criados por meio da troca destes “segredos” entre os participantes (JENKINS, 2009).  O que pode gerar pontos positivos ou negativos para uma comunicação, pois, por vezes, podem ser criados nós, enrolando uma crise comunicacional. Isso demonstra que, sendo tricoteiros os seus participantes, os comunicadores precisam também interagir e perceber a riqueza dessas chamadas “fofocas”, que podem e devem ser valorizadas como discussão e influência mútua.

Como tricoteiros, os comunicadores precisam estar atentos com os pontos levantados por seus públicos e tecer, com eles, narrativas que gerem um sentido tanto para a empresa como para as pessoas. É preciso também tricotar/conversar com os indivíduos que falam sobre a empresa, interagindo e valorizando as discussões, perante estas necessidades que as pessoas sentem de compartilhar suas experiências. Com isso tudo, precisamos pensar quais narrativas queremos desenrolar e fazer as pessoas se amarrarem nelas. E, se surgir crises, vamos desatar os nós!

Fonte: Emiliana Pomarico Ribeiro

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