quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A boa e velha "nova tecnologia"

Ao chegar a uma loja de aparelhos eletrônicos, a impressão que muitos tem é que perdemos alguma parte da história. São tantas novidades. Tantas coisas antigas reinventadas. Tantos aparelhos e aplicativos. Tanta novidade que, ao comprar qualquer equipamento, dificilmente nos desvencilhamos da sensação de que em questão de dias teremos algo obsoleto.
Passamos muito tempo pensando desta forma, passeando por várias lojas, e acabamos por não comprar nada, afinal, daqui a pouco lançam uma novidade melhor.

E quando este sentimento nos acomete profissionalmente?

Já não são poucas as vezes que fui consultado sobre o valor das novas tecnologias para o ambiente corporativo. As dúvidas praticamente se repetem na maioria dos casos.

Desde questionamentos éticos até os debates de autonomia e engajamento, tudo parece caber na seara digital. Ao responder, busco sempre compreender o que de fato motiva tantas perguntas. Em algumas empresas o que se procura é uma justificativa para usar as redes sociais. Em outras, busca-se o oposto, uma forma de condenar seus riscos a fim de garantir a aparente calmaria dos anos anteriores. Outros tantos profissionais questionam com franqueza e desejo de se aprofundar em algo tido como novo. Mas até que ponto já estamos pensando no trabalho cotidiano de modo inovador?

Com tantas inovações, muitas empresas estão revitalizando, por exemplo, seu canais de comunicação. São murais eletrônicos, canais corporativos de televisão, newsletter interativa. Mas convenhamos que estas são inovações do passado. São remodelagens para um conteúdo muitas vezes sutilmente alterado.

Ainda nos dias de hoje é difícil citar alguns exemplos de empresas que já criaram aplicativos para celular, ou mais conhecidos como APP, que fossem direcionados para seus colaboradores. Encontramos muitos aplicativos para clientes, para leitores, para grupos de profissionais, ou seja, para os outros. Raros casos nos quais dedicamos tempo e investimento para atingir positivamente as potencialidades tecnológicas quando o assunto é o próprio colaborador.

É claro que a realidade tecnológica e cultural do brasileiro é extremamente variada, mas em um país cujas linhas telefônicas já superam o número de habitantes, poucas são as grandes ações que utilizam o celular como veículo de comunicação de forma não-invasiva.

Há alguns anos a publicidade já encontrou maneiras interessantes de trabalhar com esta mídia mas ainda hoje os jornalistas das grandes redações continuam recebendo centenas de releases à moda dos idos anos 80. Por vezes alguns jornais murais corporativos acabam apenas ganhando um bom layout, mas o investimento em capacitação contínua do profissional de comunicação fica relegado às próprias custas.

Como os profissionais da comunicação empresarial podem realmente utilizar as inovações tecnológicas se poucos tem a oportunidade de serem treinados, de participarem realmente de um processo contínuo de evolução do conhecimento e das habilidades?

Para ter uma visão rápida deste cenário, basta tentar descobrir quantas pessoas ao nosso redor conhecem medianamente tecnologias como NFT, do inglês Near Field Communication, ou sequer o QR Code, ou Quick Response Code, duas tecnologias hoje simples, que na mão de jovens e artistas tem ganhado significados diversos e ricos, e que passam silenciosas pelos horizontes empresariais. Se inclusive o que está tanto em pauta nos dias de hoje é amplamente desconhecido, como falar da Espiral do Silêncio, nossa velha conhecida, ou das evoluções nas teorias de comunicação?
O encantamento com a tecnologia está fazendo com que sejamos aqueles compradores na loja de tablet. Tudo parece estar brilhando, impecável e às vias de ser ultrapassado. Tanto que nos basta um olhar desatento para aparentar conhecimento profundo da tecnologia.

Imagine quantos são os celulares que passeiam pelos elevadores das empresas, sendo que poucos deles fazem algo diferente do que levar o nosso colaborador a um universo completamente apartado da empresa. Isso ocorre pois ainda nos dias atuais as empresas muitas vezes pensam na internet como o pote de ouro no final do arco-íris, mas por onde apenas os clientes transitam. Fornecedores, colaboradores, acionistas. Tantos públicos mal são considerados.

Antes que haja um ponto final neste texto, se faz mister relembrar que, da mesma forma que a internet tem sido tanto sub quanto superestimada, não basta mergulhar nas ondas da web sem ter se preparado para um choque cultural. Poucas são as empresas que já estão culturalmente preparadas para um novo paradigma tecnológico.  Mesmo que haja o desejo sincero de inovar, parte disso depende de muito esforço, treinamento, abertura e, tão importante quanto, valorização dos próprios colaboradores.

A internet, hoje apelidada grosseiramente de 2.0, não é só mais um ambiente de negócios. Ela é parte da sociedade. Já se tornou parte da esfera pública. É fator de transformação. Se estes reflexos ainda não foram profundamente percebidos em sua empresa, grosso modo, ou há negligência e as transformações tem sido sistematicamente ignoradas ou a zona de conforto atingiu a grande base corporativa, que pode estar rumando para a obsolescência generalizada não mais apenas da estrutura, mas também do grupo de colaboradores que constroem a alma da corporação.

Fonte: Mauricio Felício

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